quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Room 237 e o Fardo do homem branco

Um dia de trabalho, um final de semana ou um feriado, no meio do dia eu me sento para almoçar e dar uma zapeada na tv,  me deparo com "O Iluminado" passando em algum canal e assassino qualquer resquício de produtividade que meu dia poderia ter. Isso já aconteceu um milhão de vezes; eu realmente adoro esse filme. Mais do que isso, "O Iluminado" tem um poder quase hipnótico que me fascina, acho impossível ignorá-lo. Você bate o olho no filme e está imediatamente imerso naquele sonho/pesadelo desde a primeira cena do fusquinha. E eu nunca entendi realmente qual era a daquele filme, muito menos o que existia nele que me deixava grudada em frente à tela por três horas, sem sentir o tempo passar. A sensação de medo, o mistério, a fotografia bonita, com todas aquelas formas geométricas, o Jack Nicholson e a cara estranha da Wendy (Shelley Duval consegue ser bonita e parecer um ET ao mesmo tempo, incrível) fazem com que o filme seja muito atrativo, mas quando ele termina, te deixa com aquela pergunta em aberto e uma sensação de que você deixou passar alguma coisa.



Quando eu li sobre o documentário "Room 237" no IMDB, fiquei muito animada! Veja o trailer; é mistério demais pra deixar qualquer pessoa curiosa e fã do filme arrancando os cabelos. Demorei, mas consegui achar o danado sem legendas. DEMÁS :)



*SPOILER*

Tirando a parte sobre "Stanley Kubrik dirigiu a farsa do pouso na lua" que é bastante forçada, o resto do documentário apresenta teorias e explicações muito interessantes sobre o filme. Me impressionou bastante saber que Stanley Kubrik tinha um QI ridiculamente alto e que na década de setenta esteve interessado em como funcionavam as Mensagens Subliminares na publicidade. De fato, existem mensagens não explícitas no filme, mas elas não estão dizendo algo que não está lá, e sim, reforçando o significado central da história, que eu não sei dizer se existia no livro original de Stephen King. Aliás, o  livro e o filme são muito diferentes. Seria interessante reler o livro (muito assustador, por sinal. Nem consigo ler de noite!) e fazer essa análise novamente. Quem sabe num post futuro ;) Concordo com o documentário ao dizer que este filme, em termos de história, tem muitas camadas.

A primeira camada mostra o círculo familiar dos personagens e é particularmente interessante. Temos uma família muito disfuncional, em que Jack, antes mesmo de ser tomado pela loucura do hotel já se mostra um homem, no mínimo, estranho (essa cara de filho da mãe que só o Jack Nicholson sabe fazer). A família está tentando se reconstruir no início do filme e posteriormente descobrimos que Jack já havia dado os primeiros sinais de ser violento e descontrolado. Mas Wendy decide tentar de novo, mesmo que isso signifique arriscar o bem estar psicológico e físico de seu filho. As gêmeas fantasmas representam a visão dual que o pequeno Danny tem da mãe; dissociada no papel de mãe e esposa de maluco.

A segunda camada é a do Hotel e dos fantasmas, que é muito explorada no livro, levando - nos a conhecer boa parte da história anteiror do hotel e o que realmente aconteceu aos antigos hóspedes, mas é suprimida no filme. Sou da sincera opinião de que num filme de terror, menos é sempre mais (aquele seriado American Horror Story era super legal até ficar uma merda, quando os fantasmas se tornaram "pessoas reais com sentimentos"), no filme de Stanley Kubrik os fantasmas aparecem em momentos especiais e carregados de simbologia. O hotel e o labirinto são especialmente fortes, pois tem muita relação com a dinâmica da família. Aliás, é interessante o quanto o inteiror do hotel é transformado em um labirinto pelo incríveis jogos de câmera, principalmente quando Danny da seus rolês de tonquinha (motoneta, motinha, triciclo, esse negócio tem muitos nomes). A família está perdida, entra em uma jornada de reconciliação sem saber se encontrará uma saída (o labirinto) e lá dentro encontram o monstro escondido - a loucura - e Jack passa a ser o minotauro a persegui-los.

A terceira camada é a da história que não é contada, o que Stanley Kubrik quis dizer sem (muitas) palavras, está em pequenos detalhes do filme, e é o tema central do Documentário Room 237: Os massacres que aconteceram durante a história da humanidade, especialmente o dos indígenas pelo homem branco. O documentário também cita que existem referências ao holocausto, mas não me convenceu muito. As referências ao massacre de povos indígenas, entretanto são bem evidentes, e eu tive um BOOM cerebral quando vi esta parte do documentário. Enxerguei aqueles significados que sempre estive procurando no filme e nunca encontrei. Veja: Tudo começa quando o dono do Hotel diz que o lugar foi construído sobre um cemitério indígena e não para por aí: Boa parte da história se passa na "Ala Colorado" do hotel, que é repleta de decorações indígenas, prestando atenção, você vê índios e coisas de índios em todos os cantos. A Ala Colorado contém o Salão de festas, que se chama Golden Room, exatamente o local em que a loucura de Jack nos é mostrada mais claramente, e onde ele "decide", sob influência dos fantasmas do passado, matar Danny e Wendy; o Golden Room é uma referência ao Colorado's Gold Rush: A corrida do ouro do Colorado, que foi importante para a colonização daquela região dos EUA. Com a colonização do homem branco os povos indígenas foram dizimados. Nesse mesmo salão, Jack conversa com o fantasma - garçom (Loyd, eu acho), e quando Loyd pergunta pela sua família, Jack responde: "É o fardo do homem branco, Loyd". É bem aqui que as duas camadas da história se amarram: O circulo familiar ganha um outro significado; Danny e Wendy estão sendo oprimidos, perseguidos e executados pelo mais forte, por quem está no papel de "responsável", aquele que assumiu o "fardo do homem branco". O elevador "babando" sangue também remete a essa idéia (mas acredito que originalmente queria dizer: neste hotel muito sangue foi derramado).

"O Fardo do Homem Branco" é um poema de Rudyard Kipling, publicado no Séc. XIX. Embora o poema misturasse exortações ao império britânico com ajuizados alertas sobre os curstos envolvidos, os imperialistas americanos se fixaram na frase como uma caracterização dos nobres motivos que justificavam a política imperialista

O final de "O Iluminado" também tem um significado especial bastante bonito, mas esse eu vou deixar pra vocês verem no documentário, que apesar de ser meio absurdo em algumas partes (tem que ser forte pra ignorar a parte da farsa do pouso na lua e continuar assistindo), tem muita coisa legal, e vale a pena para conhecer um pouco mais da história do cinema.


Gostou do Post? Gostou?


Beijos  :*

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

1...2...3... e ... JÁ!

Vou iniciar meu ano iniciando esse blog.

Adentrar o covil da Salamandra significa, para mim, cair de cabeça no meu objetivo de me tornar escritora. 

Ter um blog é um incentivo para que eu escreva todos os dias, já que muitas vezes crio coisas na minha cabeça que acabam nunca indo para o papel, então, porque não ter um "lugar" onde deixar a imaginação correr solta, treinando meu "músculo da escrita" bem despretensiosamente.
Para o eventual leitor, eu espero que o Covil da Salamandra seja, antes de tudo, um lugar para ler coisas divertidas. Não necessariamente divertidas no sentido de "ri litros", mas divertidas o suficiente para espariecer o cérebro e fazer a cabeça viajar.

Meu objetivo é publicar, pelo menos, um conto por semana (de autoria minha e, quem sabe, algumas traduções de coisas gringas legais que eu achar pela internet) e tentar publicar coisas novas todas as noites, que podem ser pensamentos, críticas de livros, filmes e televisão e só Deus sabe mais o que.

Finalizarei meus posts com um COMENTÁRIO MUSICAL sobre coisas que eu acho legais/engraçadas/estranhas em letras de músicas.
Hora de parar por aqui e organizar o template da bagaça.
Beijos e até amanhã.


Comentário musical: Se você faz uma música para uma garota dizendo "You're my wanderwall" (você é minha parede maravilhosa) você deve ser um puta cara encostado.

funny gifs
Obrigada, Worf